18 de maio de 2010

Avant e vocais femininos


É estranho imaginar que músicas avant-garde possam, de alguma maneira, conter letras e vocais. Desconsiderado o uso da voz como mais um instrumento da massa sonora (Magma, Univers Zero, Simon Steensland), a tarefa de incluir vocais interessantes em músicas marcadas pela atonalidade parece tarefa impossível.

Contrariando todas as expectativas, no entanto, eis que despontam aqui e acolá interessantíssimos exemplares que sabem, de forma criativa, aliar vocais e letras e música atonal, improvisada ou experimental.

A característica comum parece ser ignorar, também no campo vocal, os padrões estabelecidos - refrões e repetições são evitados. Além disso, são comuns letras desapegadas de qualquer intenção de formar rimas. Pelo contrário, são marcantes as frases longas e cantadas em ritmo frenético.

Adiante, elenco alguns dos exemplares mais importantes do vocal avant. São todas mulheres, e todas possuem um timbre de voz que soa estranho ao início, mas que se amoldam perfeitamente à proposta musical buscada.

Dagmar Krause

A alemã Dagmer Krause produziu, sem dúvida, os exemplos mais vibrantes de amálgama entre o experimentalismo e a cacofonia do repertório avant-garde e o elemento vocal.


Seu timbre de voz único, que chega a parecer desafinado, dão um colorido extra ao repertório de grupos com os quais contribuiu, notadamente Henry Cow, Slapp Happy e Art Bears. Seu estilo parece ter influenciado toda uma corrente de cantoras, algumas das quais vão abaixo mencionadas.


Como exemplo, confiram abaixo duas magníficas aparições de Krause no álbum Desperate Straights, obra conjunta de Slapp Happy e Henry Cow:



Deborah Perry

Trabalho interessante no campo avant também foi realizado por Deborah Perry, do Thinking Plague. Com óbvias referências a Dagmar Krause (aliás, uma das maiores influências declaradas do Thinking Plague é justamente o grupo Henry Cow), Deborah - que também possui um timbre de voz parecido com o de Krause - consegue chamar a atenção para seus vocais mesmo durante as tempestades sonoras produzidas por Mike Johnson e cia. Uma das músicas que mais me chamam a atenção é "Dead Silence":


Outro bom exemplo encontra-se aqui.

Aislinn Quinn

O registro único do grupo Absolute Zero, encarnado no álbum Crashing Icons, foi avassalador: além de um avant-prog de grande qualidade, com composições complexas e repletas de quebras rítmicas, foi lançado o nome de mais uma grande cantora, Aislinn Quinn.

Aislinn também é dotada de um timbre de voz pouco usual, e aproveita bem seus dotes, utilizando largamente de gritos e uivos. O vocal segue a mesma linha tradicional em terras avant - por vezes a cantoria parece seguir numa direção totalmente oposta daquela para a qual os outros instrumentos levam a composição, o que adiciona mais uma camada de complexidade e imprevisibilidade à música.

Infelizmente, não encontrei nenhum vídeo ou excerto para linkar.

17 de setembro de 2009

Alamaailman Vasarat


Chame do que quiser, metal, klezmer, punk ou avant-garde; eu só sei que é pesado, e com violoncelos distorcidos ao invés de guitarras.

O álbum já tive, agora deve estar circulando no mercado negro depois que estouraram o vidro do meu carro.


Donny McCaslin e Dave Douglas

Performance do Donny McCaslin Group com convidado especial, Dave Douglas, trompetista de grande destaque atual, considerado o melhor de sua geração.


29 de maio de 2009

Volapük no Gouveia Art Rock 2009

Apresentação do Volapük, do Guigou Chenevier, de quem já falamos aqui e aqui também, no Gouveia Art Rock 2009.


28 de maio de 2009

NHX e o electrojazz com toque zeuhl

O NHX, banda composta por alguns colaboradores do Magma (Emmanuel Borghi, Philippe Bussonnet e James McGaw), mas cuja liderança cabe a Gaël Horellou, pratica uma espécie de jazz eletrônico, ou computerjazz, como exposto por seus próprios integrantes.

A forte presença do baixo e a manipulação rítmica para criação de crescendos ritualísticos, no entanto, parece vir direto da história zeuhl de seus membros.

Abaixo uma das músicas do segundo álbum, NHX II.


Total improvisation, including the loops. Or some “free”, like free jazz or... free parties, which we often attended in the name of freedom! So yes, our music IS a little angry, it simply reflects the vision we have of a highly controlled and monitored society. I agree that we may sound a little extreme if you expect lounge music from us… (Dominique Poutet, produção e mixagem)

22 de maio de 2009

John Zorn com sua Electric Masada

John Zorn e a sua versão elétrica da Masada. Como sabem, o percussionista Cyro Baptista é figurinha carimbada por aquelas paragens.





PS.: Outro dia descobri que John Zorn e Marc Ribot (por convite do Cyro, presumo), participaram do álbum da Marisa Monte Mais. Bizarro.

1 de abril de 2009

Ashley Kahn e a história de duas obras-primas

Já há algum tempo a Editora Barracuda trouxe, para o Brasil, dois livros de autoria do jornalista Ashley Kahn, que buscam destrinchar duas obras-primas do jazz: A Love Supreme, de John Coltrane; e Kind of Blue, de Miles Davis.


Já tive oportunidade de ler a obra sobre o grand opus de Coltrane (A Love Supreme - A Criação do Álbum Clássico de John Coltrane, 2007), e se trata de um livro extremamente rico em detalhes e minúcias, seja acerca do processo criativo que culminou na gravação do disco, seja sobre a sua repercussão junto ao público.

Kahn ainda reserva boa parte do livro explorando o impacto do álbum sobre a cultura musical dos Estados Unidos, esmiuçando, especialmente, o contexto espiritual em que foi gestado, e que acabou por provocar reações equivalentes nos músicos e nos ouvintes. Há grande quantidade de testemunhos colhidos entre vozes da música - da época e dos tempos de hoje - que confirmam a popularidade e influência da obra-prima de Coltrane inclusive para fora dos círculos de jazz.

A conotação espiritual que Coltrane deu ao álbum casou tão bem com a proposta free-jazz e improvisacional que, até hoje, este gênero do jazz está entrelaçado com sentimentos de transcendência, êxtase espiritual e prece. Coltrane e seu A Love Supreme provavelmente não foi o primeiro a explorar o jazz a partir desta perspectiva, mas sem dúvida é o que representa, de forma mais imediata, a idéia.

A abordagem espiritual-emotiva do free-jazz, a partir daí, vai se repetir em grande obras do gênero (Pharaoh Sanders, Karma; Archie Shepp, The Magic of Ju-Ju; Keith Jarret, Spheres; praticamente toda a discografia de Sun Ra; para ficarmos em apenas alguns exemplos), confirmando a impressão de que, à medida que o jazz se livra dos limites formais, das amarras dos acordes e das estruturas harmônicas, mais ele se aproxima de uma experiência etérea e transcendental.

Por isso, a leitura do livro de Kahn é bastante recomendada, pois traz à tona os propósitos e objetivos de Coltrane com o álbum, trazendo luz para esta interessante questão acerca da relação entre a música improvisada e a religiosidade.


27 de março de 2009

Ornette Coleman em São Paulo

Os felizardos paulistanos receberão nada menos que Ornette Coleman, dia 12 de maio, no Via Funchal. Coleman vem acompanhado de seu quarteto, que inclui seu filho Denardo Coleman na bateria. É o mesmo quarteto que gravou Sound Grammar (2006), seu último álbum, que faturou o Prêmio Pulitzer para música em 2007.

Como aperitivo até a data do concerto, algumas apresentações recentes do quarteto, logo abaixo.