É estranho imaginar que músicas avant-garde possam, de alguma maneira, conter letras e vocais. Desconsiderado o uso da voz como mais um instrumento da massa sonora (Magma, Univers Zero, Simon Steensland), a tarefa de incluir vocais interessantes em músicas marcadas pela atonalidade parece tarefa impossível.
Contrariando todas as expectativas, no entanto, eis que despontam aqui e acolá interessantíssimos exemplares que sabem, de forma criativa, aliar vocais e letras e música atonal, improvisada ou experimental.
Contrariando todas as expectativas, no entanto, eis que despontam aqui e acolá interessantíssimos exemplares que sabem, de forma criativa, aliar vocais e letras e música atonal, improvisada ou experimental.
A característica comum parece ser ignorar, também no campo vocal, os padrões estabelecidos - refrões e repetições são evitados. Além disso, são comuns letras desapegadas de qualquer intenção de formar rimas. Pelo contrário, são marcantes as frases longas e cantadas em ritmo frenético.
Adiante, elenco alguns dos exemplares mais importantes do vocal avant. São todas mulheres, e todas possuem um timbre de voz que soa estranho ao início, mas que se amoldam perfeitamente à proposta musical buscada.
Dagmar Krause
A alemã Dagmer Krause produziu, sem dúvida, os exemplos mais vibrantes de amálgama entre o experimentalismo e a cacofonia do repertório avant-garde e o elemento vocal.
Seu timbre de voz único, que chega a parecer desafinado, dão um colorido extra ao repertório de grupos com os quais contribuiu, notadamente Henry Cow, Slapp Happy e Art Bears. Seu estilo parece ter influenciado toda uma corrente de cantoras, algumas das quais vão abaixo mencionadas.
Como exemplo, confiram abaixo duas magníficas aparições de Krause no álbum Desperate Straights, obra conjunta de Slapp Happy e Henry Cow:
Deborah Perry
Trabalho interessante no campo avant também foi realizado por Deborah Perry, do Thinking Plague. Com óbvias referências a Dagmar Krause (aliás, uma das maiores influências declaradas do Thinking Plague é justamente o grupo Henry Cow), Deborah - que também possui um timbre de voz parecido com o de Krause - consegue chamar a atenção para seus vocais mesmo durante as tempestades sonoras produzidas por Mike Johnson e cia. Uma das músicas que mais me chamam a atenção é "Dead Silence":
Outro bom exemplo encontra-se aqui.
Aislinn Quinn
O registro único do grupo Absolute Zero, encarnado no álbum Crashing Icons, foi avassalador: além de um avant-prog de grande qualidade, com composições complexas e repletas de quebras rítmicas, foi lançado o nome de mais uma grande cantora, Aislinn Quinn.
Aislinn também é dotada de um timbre de voz pouco usual, e aproveita bem seus dotes, utilizando largamente de gritos e uivos. O vocal segue a mesma linha tradicional em terras avant - por vezes a cantoria parece seguir numa direção totalmente oposta daquela para a qual os outros instrumentos levam a composição, o que adiciona mais uma camada de complexidade e imprevisibilidade à música.
Infelizmente, não encontrei nenhum vídeo ou excerto para linkar.