10 de setembro de 2005

Guigou!


Guigou Chenevier tem demonstrado ao longo de sua carreira ser um dos grandes compositores da música de vanguarda e congêneres. Para tanto bastava sua presença à frente do Etron Fou Leloublan, um dos fundadores do R.I.O., e do Volapük, somado às suas aparições em grandes álbuns, como em Speechless, de Fred Frith e Body Parts, onde faz duo com Nick Didkovsky (Doctor Nerve). Não bastasse isso, deve-se levar em conta também sua carreira solo, que não deixa nada a desejar em relação ao seus outros trabalhos. Les Rumeurs de la Ville é seu quarto álbum solo.

A premissa do álbum é uma das mais instigadoras. Guigou gravou, por ocasião de um workshop em Avignon, vários músicos amadores, nos mais variados estágios de técnica e habilidade, que foram estimulados a tocar espontaneamente e segundo seus instintos. Chenevier, então, mesclou estes excertos às suas composições executadas por um septeto profissional (incluindo seus dois colegas de Volapük). O resultado é espetacular: violinos desafinados, trompetes vacilantes e guitarras sôfregas interagem com o virtuosismo do ensemble ao ponto de se tornarem quase indiscerníveis; deixam de ser aberrações para integrarem a obra de maneira visceral.


A tônica do álbum assemelha-se à dos trabalhos do Volapük, mas em uma vertente sóbria, menos agitada. Aqui também encontra-se presente a estreita relação que Chenevier nutre com a música popular, todas as composições, embora eruditas, apresentam sempre um traço folk. Por vezes, as composições enveredam por transições melancólicas, em quase lamentações. Tudo isso coopera para o que parece ser o mote do álbum: captar os rumores, os murmúrios da cidade. Paralelamente, temos a junção do erudito e do popular, do binômio virtuose-amadorismo. Como exemplo, na metade de 'Guerre', não se pode divisar o que é amador e o que não é. Tudo se incorpora em uma massa sonora indistinta, que emparelha todos os músicos, para construir uma interessante peça, no melhor estilo avantgarde. Por vezes, a disparidade é gritante, o que não impede a comunicação entre os instrumentos, com em 'El Zorro', onde Chenevier faz dueto com um trombone terrivelmente mal tocado. Há outras ocasiões onde isto se repete, como em 'J'ai Du Bon Tabac'.

Ao final, tem-se a execução de 'Limelight', composição de Charlie Chaplin para o filme que no Brasil levou o nome de Luzes da Ribalta. Sobre sua presença no álbum posso apenas avançar em especulações, mas a julgar pela temática do filme, talvez tenha sido uma inspiração para Chenevier. O filme é uma magistral reflexão sobre a Arte, sobretudo em sua conexão com a figura do artista. Conexão esta que chega a ser mesmo física; na película, uma bailarina em decadência não consegue mais andar, ainda que fisicamente não haja entrave para tanto, tudo se resume em que o ocaso de sua arte é também o ocaso de seu corpo, e o presságio de sua morte anuncia também a morte de sua arte. Assim, a arte e o artista estão enlaçados de tal maneira que a meta de todo artista é romper esta sina, para que sua arte sobreviva a si próprio. Também a música apresenta estas nuances, e talvez o que Chenevier queira nos mostrar é que se pode também pensar em música independente de um intérprete.
"That's all any of us are: amateurs. We don't live long enough to be
anything else." Calvero (Charlie Chaplin), em Luzes da Ribalta

Um comentário:

Anônimo disse...

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