16 de julho de 2005

Im·promp·tu'


Lá pelo final de Epistrophy, na versão de Eric Dolphy em Last Date (1964), o baterista atravessa um pequenino solo - dura uns 15 segundos - nada muito over the top. Era a primeira vez que Han Bennink se fazia notar em uma gravação de destaque. Desde então o holandês tocou com boa parte da nata do free-jazz, com destaque para sua longa parceria com Peter Brötzmann. E, num octeto tão caótico quanto aquele do seminal Machine Gun (1968), comumente você se pega prestando exclusiva atenção à bateria mirabolante de Bennink, seguindo sua sequência torrencial de tricks and turns. E com Brötzmann, Breuker e Parker aprontando tamanha algazarra, isso não é pouca coisa.

A especialidade de Bennink, no entanto, está na improvisação. É daqueles bateristas que não fica satisfeito atrás do seu drum kit:
I don't need any more enormous drum kit or bells or gongs or whatever sort of shit. I find something here and there behind the stage. Canadian stages are very clean, so there's nothing to find, but yesterday I found some strings, a cardboard box, and a piece of wood. They are more interesting to me sound-wise than many other things because sounds are everywhere and it depends on what context you put them in. When I play on something, it's still playing with two sticks, so I just let the audience hear the difference between how the drum kit sounds or a garbage can, piece of junk, or whatever. That's the idea.

Em Boogie with the Hook (1996), por exemplo, ele toca uma caixa de pizza, num dueto com o igualmente excêntrico Eugene Chadbourne.

Ao vivo, Bennink costuma improvisar usando aparatos criados por ele mesmo para impressionar a platéia - usualmente de maneira cômica - como mecanismos que o permitam tocar à distância, papéis (geralmente pegando fogo), tesouras, altos-falantes, o que estiver à mão. Não é raro que ele desmonte o kit em pleno show, jogue-o ao chão, faça-o girar, etc. Sua inventividade remete ao grande Rahsaan Roland Kirk, que criava instrumentos próprios e era capaz de tocar três saxofones ao mesmo tempo.

Ah, Bennink toca com o pé também.

Um comentário:

Anônimo disse...

Inesquecíveis os concertos a solo no CAMJAP, na Gulbenkian, em finais da década de 80.